domingo, 28 de fevereiro de 2010

Papo de pai

Caros leitores, abro aqui um espaço para dois textos muito representativos. Um meu e outro do talentosíssimo rapper Emicida. Os dois sobre o mesmo assunto:  a paternidade, essa experiência fantástica que a vida nos reserva. Um sonho que para mim se chama Maria Flor e para o Emicida se chama Estela. Muita saúde, paz e sucesso para ambas.

Depoimento do Juca


Era uma segunda-feira normal, final de agosto. Nada de especial além de um dia de trabalho  na véspera das minhas férias. Segundo a previsão da médica, ainda  faltavam nove dias para a minha filha nascer. E estava tranquilo indo para mais um dia no jornal.

Mas com um telefone, tudo mudou e aquela segunda -feira se tornou a mais especial de todas.  Fui correndo para  o hospital e lá encontrei a minha mulher com a carinha mais linda do mundo, crente que era só um alarme falso, desses tão comuns no final da gravidez. Afinal de contas, ainda faltavam nove dias para a Maria Flor nascer, porém, o veredito da chefe de enfermagem foi curto e indiscutível. 'É nasce hoje'.

Eu e a minha mulher nos olhamos. 'Hoje!?!?'. Era uma sensação de surpresa, alegria e medo.

Todos os preparativos foram feitos. Chegou a médica... chegou a hora. Fui trocar de roupa. Recebi as orientações de uma enfermeira e caminhei sozinho do vestiário até a sala de parto. A cabeça a mil e o coração disparado. Na sala um clima de paz e tensão. Uma das músicas preferidas da minha mulher tocando no aparelho de som entrecortada por uma conversa animada entre enfermeiras e a médica.  Não conseguia me concentrar em nada, a emoção tomava conta do meu coração.

Cheguei tímido, me aproximei da mesa de parto e pude ver o rosto da minha mulher com um meio sorriso de supresa e dor.

Tudo correu bem e num piscar de olhos ela estava lá. No meio da sala, toda sujinha e recebendo a atenção de todos. Um momento mágico. Um momento único. Naquele segundo a minha vida ficou muito mais completa.

Depoimento do Emicida

Acho que uma das maiores sacanagens que se pode fazer com um leitor, espectador ou um ouvinte é dizer, não existem palavras para descrever determinado momento ou acontecimento, resume o texto ou o discurso em "eu sei e vocês não", bom pelo menos aos meus olhos fica esta impressão... Realmente é dificil descrever esta sensação, bem próximo do impossivel, mas vou me arriscar e quem sabe com sorte, eu consigo, vamos lá.


Gosto de Refletir sobre o poder da mãe Natureza acima de todas as outras coisas, quando ela se manifesta, entendemos por que ela é chamada de mãe. um nascimento, de qualquer ser que seja, sendo nosso filho/filha ou não é fascinante por si só.

 Ter a benção de presenciar o primeiro contato de uma nova vida com o velho mundo, marca qualquer pessoa. No meu caso não foi diferente, a tensão durante o trabalho de parto, bota no chinelo a final da liga dos Mc's facil, começa por ai. Segurar na mão de uma mãe momentos antes de ela dar a luz e olhar no fundo dos olhos dela faz você pensar em tanta coisa, tanta coisa mesmo, meu cérebro ja é estranho, imagino que muito do que passa pela minha cabeça possa soar bizarro para outras pessoas, mas eu me acostumei com isso a algum tempo já... Vi no brilho dos olhos dela algo tão grande e isso sim é inexplicavel pois nunca saberemos oque é, apenas as mulheres sabem e se tentam colocar em palavras automaticamente diminuem oque realmente foi aquilo.

Ver quando aquele corpinho minusculo entra em contato com as mãos do médico então, foi a única coisa na vida que me deixou estático, sem saber oque fazer, esqueci de fotografar com a camera na mão, o médico me lembrou "Ei, você não vai fotografar, Pai?" e eu bati a foto dela, naquele momento sublime, o auge da paz que alguem pode ter, tão pequena e tão importante...e tão carente de cuidados, uma nova pessoinha.

Reseta a vida, como um video game, como fechar um livro esquecer oque leu e recomeçar. As prioridades tornam-se outras automaticamente, pela primeira vez eu me preocupei com o futuro de uma forma temerosa, que te coloca numa posição de algo tão vulneravel como qualquer ser inofensivo vivente e nos faz pensar coisas como "agora, eu tenho algo a perder..." ," alguem precisa cuidar dela..." mais ou menos isso...



Me senti maior e me senti menor ao mesmo tempo, Mestre e aluno, aguardei a sua chegada no quarto da maternidade pensando

se chorando ela fez isso comigo imagina quando ela sorrir...

2 comentários:

  1. Poxa !!!! sensacional sua descrição, me senti pai sem nem mesmo chegar a ser mãe!

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  2. Ge-ni-al, eu que sou pai, entendo e concordo, com pensar o futuro a partir disso, parabéns a vocês pelo relato.

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